sábado, 3 de maio de 2008

Aonde vamos parar?

Diante do sensacionalismo da mídia contra o real debate sobre as condições estruturais da Faculdade de Medicina da UFBA, aonde vamos parar? Em declarações de um idoso caduco , que o próprio lugar comum já repudia? Ou seguir adiante? Discutindo os motivos que levaram estudantes de medicina a boicotar o ENADE e se este, de fato, corresponde a um instrumento capaz de avaliar o curso e ensejar as mudanças necessárias.

Declarações explicitamente preconceituosas, de fato, não são mais defendidas abertamente, ainda mais em jornais. Não que deixaram de existir, mas em função do medo de futuras represálias estatais ou morais, fizeram com que se tornassem mais veladas.

Na própria FDUFBA, temos muitos exemplos ilustrativos. Semestre passado um outro professor gagá de processo penal, ao conceituar mulher, limitou-se a dizer "cabeça, tronco e membros". Ainda neste semestre, um outro (que apesar da pouca idade, já nasceu velho), em sala de aula, elogia: "você até que é inteligente pra um cotista" (em semestres passados, enquanto estudante, dizia que "a escravidão foi um favor aos povos negros, pois na África a situação estaria pior").

Isso sem falar nas mais sutis, mas não menos preconceituosas,como por exemplo: no dia 1º de março de 2007( dia da Luta pelas Ações Afirmativas na UFBA), enquanto o CARB promovia um farto café da manhã ,ao som de Jack Johnson, do lado de dentro da Torre de Marfim, do lado de fora ,houve a passeata do Movimento Negro da UFBA pela Rua da Paz sem obter nem 0,001% da atenção que o CARB agora dá ao velho nazi. Nesse mesmo dia, um estudante ao ser questionado sobre tal absurdo, retrucou: "eu sou branco, porra!".

Portanto, listar outros exemplos é muito fácil , assim como rebater os argumentos pueris trazidos pela viúva de Hitler.Porém essa- definitivamente- não é a nossa luta.

E neste sentido faz-se necessário questionar o porquê ,diante de tantas análises sobre ENADE e a Faculdade de Medicina da UFBA (como a dos estudantes , que optaram pelo BOICOTE ao exame e poderiam,inclusive, explicar suas razões à sociedade), estamos debatendo , justamente, a de um esclerosado que ,de outra forma, jamais teria sido tão difundida, visto a mediocridade de seus argumentos. Aonde vamos parar?



Segue abaixo a nota divulgada pelo DAMED:


Nota Pública
À imprensa e sociedade brasileira

As condições de infra-estrutura e ensino da FAMED-UFBA são semelhantes às encontradas em qualquer universidade federal brasileira, denunciadas há décadas pelos movimentos de professores, funcionários e estudantes. A nota obtida no ENADE (2 numa escala de 1 a 5) reflete a política do DAMED, em conjunto com a DENEM (Executiva de curso de medicina) de boicote à prova. Boicotamos o PROVÃO, boicotamos o ENADE em 2004 e 2007, sempre obtendo baixas notas. Após estudo exaustivo, consideramos esse sistema avaliativo inadequado, por seu caráter rankeador, por não separar públicas de privadas e pelo seu caráter pontual e punitivo. E agora, considerando as baixas notas das 4 federais, o Governo vai auxiliar de que maneira?
As declarações feitas pelo Coordenador de curso Antônio Natalino Dantas de que o baixo desempenho da faculdade está relacionado ao sistema de cotas da UFBA e ao baixo QI dos baianos embasam-se nas idéias de "contaminação" racial, determinismo genético e inferioridade dos povos, as quais legitimaram a escravidão e os campos de concentração nazistas. Não possuem, ainda, embasamento real, haja vista o bom desempenho obtido pela UnB e UERJ, pioneiras na implementação da política de Ações Afirmativas. Além disso, em 2004, quando não houve participação de alunos provenientes do sistema de cotas, a nota da FAMED também foi baixa.
Outra inverdade proferida pelo professor Dantas diz respeito à influência da Transformação Curricular no baixo desempenho, uma vez que os alunos deste novo currículo ainda não foram avaliados pelo ENADE. Assim, além de racista, o professor se mostrou, mais uma vez, tecnicamente incapaz de exercer seu cargo, por mostrar-se desinformado não só quanto ao processo da Transformação, mas também, mesmo, quanto à data de sua implementação. Também não procede a afirmação do reitor Naomar Filho de que a não aderência da Faculdade de Medicina ao REUNI poderia justificar o baixo desempenho, uma vez que o REUNI ainda nem está em vigor.
Assim, o DAMED convoca todas as entidades, movimentos sociais e culturais, além de demais interessados, para um ato público com início às 8:00 do dia 05/05/08 saindo da Reitoria da UFBA rumo à Faculdade de Medicina repudiando as declarações do professor e pedindo seu afastamento do cargo.


Diretório Acadêmico de Medicina – DAMED - UFBA
Salvador, 30 de abril de 2008

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